quinta-feira, 7 de março de 2013

A Viagem (Cloud Atlas)


O filme A Viagem mostra basicamente  como as nossas vidas estão interligadas com o passado e futuro e como "carregamos" "marcas" de existência após existência. Me lembrou muito à um princípio budista chamado "originação dependente" que é, basicamente, uma relação de causas e condições que nos "liga" aos fenômenos e eventos constituindo uma rede infinita.

O filme conta seis histórias ao longo do tempo que se alguma maneira se cruzam, tanto sendo vivenciadas pelas "mesmas pessoas" como trazendo "rastros" das vidas passadas, e projetando movimentos e traços para o futuro.
Não irei contar as histórias aqui, são muitas, o filme é longo (são quase 3h de filme!) e principalmente porque já não lembro dos detalhes. Mas mesmo assim, consigo fazer algumas considerações. ; )

A rede interrelacionada dos personagens. Embora esteja dividida entre "bons" e "maus" e eu não acredite nisso, achei bem legal!
O filme retrata muitas histórias, embora isso seja um trunfo do filme é também um problema. 1º porque ficam muitas informações e depois porque algumas histórias ficaram inacabadas ou mal-trabalhadas, eu acho. A história do jovem compositor Frobisher (interpretado pelo brilhante ator Ben Whishaw, o mesmo que protagonizou "Perfume") foi muito interessante, mas subutilizado, sem falar que o ator que é muito talentoso não apareceu como acho que deveria aparecer. Inclusive eu estava com muitas esperanças nessa história, achei sensível e poética, mas...não se desenvolveu. 

à esquerda Vyvyan é um compositor consagrado e adoentado, à direita o jovem compositor Frobisher interpretado pelo incrível Ben Whishaw


A história do velhinho que fica preso num asilo e tenta fugir de qualquer jeito ficou deslocada pra mim... Sem contar que essa história é muito Sessão da Tarde - um grupo de velhinhos e suas aventuras. Não gostei. Ah, sim, sem falar no amor antigo que ele se afastou e que no final, inexplicavelmente, aparecem juntos.


a fuga do asilo
A história onde aparece o Tom Hanks como um integrante de uma comunidade tribal num mundo pós-apocalíptico chamado Zachry junto da personagem da Halle Barry como um membro de uma comunidade mais "avançada" achei tosca... O diabinho, Velho George, que azucrina a cabeça de Zachry (o eterno "Agente Smith", Hugo Waving) achei muito mal feito e esse personagem ficou solto no contexto... O que ele representaria? A única coisa que destacaria dessa história é a criação da deusa divina Sonmi. A gente entende o papel dela e como ela assume um lugar de Deus numa outra história, essa sim eu gostei, me lembrou o filme V de Vingança! 
Essa história se passa num futuro e mostra a "vida" (se é que aquilo se chama de "vida") das garçonetes de uma rede de lanchonetes - Papa's Song - que são programadas para trabalhar nesse local (o interessante é que comumente esse tipo de padronização do trabalho é destacado no "chão da fábrica" e nesse caso é numa rede de lanchonetes. SErá que já estaríamos vivendo isso?) - todas moram na "empresa" (empresa entre aspas porque não se trata de um organização de trabalho como a gente conhece [ainda eu acho, não sei]), acordam na mesma hora, são iguais na aparência, se alimentam do mesmo líquido (que depois decobriremos como macabramente são fabricados), são obrigadas a seguir um padrão de comportamento submisso e humilhante no trabalho tudo devido a um colar que usam que as fazem seguir essa conduta, a premissa é: "sempre agradar o cliente". Só vivem e conhecem isso. Até que uma delas tem acesso a um filme ou novela, não me lembro, em que um dos personagens se revolta com uma situação lá qualquer e diz que não vai mais tolerar aquilo; bom, isso serve de mote para que essa mesma personagem se rebele no trabalho e é morta por isso. Sonmi-451, a menina que a acompanhou nessa descoberta começa a observar as coisas de uma nova maneira... até que ela é resgatada por um membro de uma frente revolucionária contra a escravização dos ciborgues pelos humanos, e aí começa uma trajetória onde Sonmi vira um messias cuja missão é libertar os ciborgues da escravidão. Estaríamos hoje ausentes de messias que doem suas vidas em prol de uma causa?

Zachry e Meronym num mundo pós-apocalíptico

Sonmi, a Messias, é a do meio



Como os mesmos atores aparecem encarnados em vários personagens ao longo das histórias, algumas caracterizações ficaram bem legais (alguns irreconhecíveis), outras, nem tanto, como é o caso da japonesinha como a esposa do advogado que estava sendo envenenado e que foi salvo por um escravo. Ela está loira e de olhos claros, achei forçado ver uma mulher com traços japoneses assim.


a japonesinha com traços europeus
Um detalhe que me chamou atenção que o filme traz é o fato de trazermos e levarmos uma "bagagem" de uma vida para outra, além de marcas corporais (manchas na pele, sinais) que têm algum significado. Não é curioso?

Outra curiosidade é o título original do filme: Cloud Atlas. Cloud Atlas é a sinfonia composta pelo personagem Frobisher, sendo que essa música aparece numa das história onde a Helle Barry é um jornalista investigativa...
Aaqui Tom Hanks é um médico que envenena um jovem advogado para pegar seu dinheiro
O filme permite fazer várias correlações entre as histórias, isso é bem bacana. Cada história do filme se liga com as demais histórias de variadas formas. Algumas que fiz: a japonesinha que ora aparece como coadjuvante que apóia o marido na decisão de serem contra à escravidão, protagoniza uma revolucionária como Sonmi numa outra vida. Parece que o sentimento revolucionário estava sendo gestacionado há tempos atrás, até que em um momento se evidenciou. Um casal que se aproximou numa história, se sentiram tocados quando se viram pela primeira vez em outra história ou vida, aquela sensação de "nunca te vi, mas te conheço".

Nota: 7.