sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Elle



Elle é um filme angustiante, muito.
Para mim, filmes que retratam a violência contra a mulher, são muito difíceis, ainda mais este, e não só pela posição da protagonista/vítima, como pelas cenas dos estupros e violências que se repetem ao longo do filme. Tenso.

A protagonista, Michèle, é uma personagem dura, lida com as intempéries da vida com dureza. No seu passado, aconteceu um fato muito marcante, que eu acho que explica esse modo de viver.
Viver dá muito trabalho, é fatigante, e cada um criará estratégias para suportar os sofrimentos.

Michèle não se emociona, não se faz de vítima e, simplesmente, continua. A vida é assim: você leva uma porrada e continua. Vida que segue.

DIFÍCIL.




(TEM SPOILERS!)


Michèle tem um pai que foi condenado à prisão perpétua por ter cometido uma chacina onde morava, não fica muito claro, mas de alguma maneira, Michèle, ainda criança, participou do surto do pai ajudando a incendiar objetos da casa. Claro, sendo criança, não podemos afirmar que ela era uma psicopata ou que tenha se tornado uma, mas, evidentemente que, um evento como esse, não passa incólume na vida de alguém. Acredito que ela, para suportar tamanha desgraça, teve que ser fria e dura com esse evento, que por conseguinte, a fez lidar com as coisas assim, com frieza.

Michèle vive cercada de pessoas desprezíveis: o funcionário que a chama de incompetente, o outro funcionário que faz uma animação rodar na empresa humilhando-a; um amante nojento; um filho idiota e, por fim, o vizinho. E ela as mantém próximas de si, encara, se impõe, mas não rompe com as pessoas que a detestam. A relação com a mãe é conflituosa porque ela não aceita os caprichosos da mãe e se recusa a ver/falar do pai.
Aliás, os personagens masculinos do filme são covardes e vis.



A relação dela com o vizinho/estuprador é ambígua. Ela já sentia uma atração por ele, e quando descobre quem ele é, continua sendo atraída. Será que Michèle acredita que deve ser punida? (a cena em que ela pede que o vizinho/agressor a bata corrobora)
Será que ela acredita que deve ser punida pelo que ela fez no passado, no surto do pai? Será que Michèle acha que não seja merecedora de afeto?

Michèle é dura também ao contar para a amiga que é a amante do marido dela (da amiga). Sem nenhuma cerimônia ou lágrimas, numa festa da empresa, chama a amiga no canto e diz toda a verdade.
Michèle, com facilidade, chama o filho de fraco e acusa a nora de traí-lo.
Michèle conta sobre a chacina em que o pai cometeu sem usar um tom dramático; simplesmente conta uma história, como se ela não tivesse vivido aquilo. Está distante.
Frieza quando ela pergunta para o estuprador se foi bom pra ele e insiste na pergunta.


Duas coisas a mais me chamaram a atenção.

Uma, é quando a vizinha (esposa do estuprador), muito católica, agradece à Michèle por ela ter dado ao marido o que ele precisava (porque ele tinha a alma atormentada). O que seria, afeto? Por conta do convite do jantar de natal? Ou a esposa fazia parte dos planos bizarros do marido de violentar outras mulheres??

Outra, quando Michèle decide visitar o pai na prisão e ele se mata ao saber da notícia. Que peso era para ambos se verem, e para o pai, foi algo insuportável. Ele estava preso havia muitos anos e para ter decidido se matar, era porque ver a filha, a coadjuvante da chacina (coagida por ele, provavelmente) o fazia ter uma culpa sem tamanho. Uma história muito pesada de se carregar...

Para Michèle, ser dura a fez sobreviver aos pesos que a vida lhe deu.

A atuação da atriz que faz a protagonista é brilhante!

Nota: 10