sábado, 1 de junho de 2013

Indomável sonhadora (Beasts of the Southern Wild)


Com o título muito diferente do original (como sempre), Indomável Sonhadora fala de uma criança, Hushpuppy, que, para enfrentar sua rotina dura e sofrida, fantasia uma realidade cheia de aventuras, monstros e descobertas. De fato, todas as críticas das quais ouvi falar sobre a interpretação da pequena Quvenzhané Wallis, que tinha apenas 6 anos quando rodou o filme, são verdadeiras na minha opinião. É incrível a sua atuação! É muito impressionante: ela é viva, natural e muito impactante!


Hushpuppy vive num local conhecido como "Banheira", uma espécie de comunidade muito pobre que vive à beira de um grande lago. Sua mãe sumiu quando era bebê e seu pai é alcoólatra, vira e mexe tem uns ataques de raiva e trata a "chefa" (como ele se refere à Hushpuppy) como uma adulta, também é distante e displicente. Ele reforça de que devem viver ali, naquelas condições, para sempre e ensina Hushpuppy a encarar a rudeza da vida como um animal - através da força e do ocultamento das emoções, assim era digno de se viver. Talvez por isso, as várias cenas em que ela grita com ferocidade, para provar ao mundo a sua força. É uma criança destemida, não tem medo dos animais, do mar, dos fogos... Enxerga o seu mundo como uma grande entidade em que cada elemento, seja ele um pequeno animal ou um grande, como parte importante para o equilíbrio do Universo. Olha que filosófico!



A vida deles já é um drama, mas quando aquela comunidade inunda após uma tormenta e, especialmente, quando o pai dela fica doente, as coisas tomam outro rumo de tragicidade. 

Fiquei confusa porque algumas cenas não parecem ser a realidade, parecem refletir a imaginação de Hushpuppy, mas talvez isso não importasse (mesmo porque o limiar entre essas duas instâncias - ficção e realidade - é muito difícil de mensurar... Como podemos afirmar que o que o outro vê/sente/ouve é uma "mentira"? Complicado isso). Acho que o que importa é ver o modo pelo qual a criança interage no mundo e interpreta o mundo, e foi exatamente essa a "magia" do filme, porque a atuação da criança é excepcional.

Hushpuppy é uma criança e carece de carinho e colo, então constantemente ela imagina conversando com sua mãe, imagina o encontro com a sua mãe. A blusa da mãe se torna quase um amuleto que a protege e a acalma.
As cenas com as feras são muito representativas (esqueci o nome do animal... é parecido com o javali... Ah, bisão! Inclusive, ela conhece esses animais numa "aula" em que a professora mostra os bisões tatuados na perna. Muito interessante). Parece que a corrida dos animais até à Banheira representa a morte, a destruição; e quando eles chegam, ela os encara com muita força, de igual pra igual, e, ao perceberem  sua imponência, prestam reverência. É lindo!


É um filme de poucos diálogos, a criança narra grande parte do filme e de poucos sorrisos. Hushpuppy está na maior parte das vezes com um semblante preocupado e sério.
É um filme que nos faz pensar em como ressignificar os sofrimentos da vida.

Nota: 10.