sexta-feira, 26 de julho de 2013

A pequena loja de suicídios (Le Magasin des Suicides)


Estava com muitas expectativas para esse filme, tudo me animava: o tema (não bastasse falar do suicídio, mas de uma loja para suicidas!!!) num formato de animação. Mas me frustrei... Uma pena... porque a arte da animação é bem bacana e o tema promete muito debate, e a animação permite muitas possibilidades.

A proposta do filme é a seguinte. Num lugar sombrio, as pessoas são tristes e não enxergam razão para continuarem vivas: são muitos os problemas, está tudo errado; só resta a morte. Fim de tudo. A família Tuvache tem um comércio herdado há gerações - uma loja de suicídio. Com o slogan:  "vous avez raté vous vie, réussissez votre mort...", algo como: "você fracassou na sua vida, supere na morte". Na verdade é uma loja que vende materiais para pessoas que queiram se matar, e garantem a qualidade dos produtos! São venenos, gases tóxicos, cordas, espadas, munição, insetos, ervas, etc... uma infinidade de coisas. É um negócio em que a família toda trabalha: o casal Tuvache (Michima e Lucrèce), a filha Marilyn e Vincent. O casal é simpático e atende muito bem seus clientes e pacientemente explicam os produtos em caso de dúvidas, os filhos são bem cabisbaixos... Marilyn sempre quis se matar por exemplo, mas a mãe não deixa para que ela herde a loja no futuro.



Até que nasce Alan, uma criança que sorri, fato inadmissível para os pais. Ele é alvo de constantes repreensões pelos pais. Deve se manter sério e carrancudo. Mas Alan saltita, assobia e ri, o tempo todo.
Ele então monta um plano (simples, diga-se de passagem) para reverter tal situação de tristeza generalizada. À propósito, seus pais se defrontam com o fato de que "vendem" a morte e isso os deixa abalados, mas para manterem o negócio da família, continuam.

Família Tuvache, da esquerda pra direita: Mme Lucrèce, Vincent, Alan, Marilyn e M. Michima
Coisas que não gostei: tudo bem que em animações tenha momento de musical (embora não seja uma regra), onde os personagens cantam e fazem performances, mas foi demasiado... Toda hora tinha uma musiquinha! Depois que o final foi muito decepcionante... Bonito foi que a mudança de entendimento da família se deu pelo riso de Alan, que, finalmente, os fez rir.



SPOILERS!

Ok, eles riram e conseguiram enxergar outra vida, mais colorida, mais bela, mas achei os "argumentos" fracos (se é que pode falar de argumentos, eles não "argumentaram", mas apresentaram "razões" para a vida ser colorida [em mais umas musiquinhas, é claro]), foi pouco poético e beirou a bobice... com flores caindo e as pessoas dançando... Tipo assim: "a vida é bela e a morte é feia", "eu vou me amar e todos me amam", "nenhum sonho é impossível"... Enfim, achei o final simplista demais.
Tudo bem que o amor traz à vida, mas a maneira como a Marilyn e o cliente (le joli garçon) se enamoraram foi repentino demais!
Legal a volta da loja, de produtos para a morte passa para uma creperia ("Aux bons vivants"), mas não entendi o tal "crepe de cianeto"... Será que o sr. Michima gostava de vender produtos para a morte? Por que ele vendeu? Não entendi. Quando me pareceu que a família Tuvache tinha mudado de idéia, ele vai e vende um produto para a morte. Talvez porque aquele cliente queria mesmo morrer, ele sempre comprava coisas na loja... mas como saber ter essa certeza? Camaradagem do Sr. Michima?

Como disse, esperei muito da animação e me frustrei. :(


Nota: 5.

domingo, 14 de julho de 2013

Drive


Não dá pra ver, mas o motorista está com o palito de dentes na boca, constante no filme

Drive é um filme intrigante. Pelo menos foi assim comigo. A história é simples: um jovem rapaz (que não tem nome, quer dizer, em nenhum momento o nome dele é dito) trabalha como mecânico, dublê (sempre dirigindo carros) e como motorista de fuga em assaltos nas horas vagas. Até que ele se envolve numa trama sem saída... 

Hilária a cena em que ele oferece ao filho da vizinha um palito. Teria o personagem concedido ao menino uma condição de proximidade?

O filme tem uma estética interessante: poucos diálogos (o protagonista quase não fala), pausas longas, uma trilha sonora de músicas antigas bem bacanas, o áudio nos momentos de violência se acentua. O filme tem um tom de antigo, embora eu ache que ele se passe no presente, as roupas, os carros, os penteados imitam uma época passada. Embora o protagonista seja um exímio motorista, o filme não é de perseguição, cenas de explosões ou algo do gênero.

O intrigante é o protagonista: é um personagem calado, solitário e frio. Ele consegue estar numa perseguição de carros sem mudar a feição do seu rosto, que, aliás, é inexpressivo em todos os momentos. Acho que a única cena em que ele expressa alguma coisa na sua fisionomia é quando ele encontra o chefe da oficina onde ele trabalha morto, mas nada demais. E tudo muda quando ele começa a gostar de sua vizinha, uma jovem que tem um filho, e o seu marido está preso (mas depois ele é libertado), mas a única coisa que rola desse romance (porque parece que ela se sente atraída também) é um beijo no elevador, para, em seguida, ter uma cena de muita violência.
O motorista é capaz de espancar um cara até a morte ou martelar os dedos de um homem sem se abalar. 
A trama se desenvolve quando ele, para ajudar o marido da vizinha que é solto, se envolve numa rede de dinheiro e morte. Ele, para se ver livre e livrar a vizinha e o filho dela, "precisa" matar... porque nem o dinheiro ele quer.

a vizinha

Acompanhei críticas e comentários na Internet sobre esse filme e observei que muitas das discussões era sobre o dualismo: herói x anti-herói. Seria o motorista um herói, porque motivado pelo amor, colocou sua vida em risco para a salvar a "princesa" da história? Ou seria ele um clássico anti-herói, um cara "todo errado" mas que age pelo "bem"? Acho que ele era um cara, esquisito é verdade (um psicopata?), que se viu numa situação nova. Parece que uma brecha permitiu com ele tentasse se aproximar de alguém e isso cobraria um preço muito alto: continuar vivo ou morrer.


O filme faz referência ao escorpião, tanto no seu casaco que o acompanha do início ao fim do filme (presente nas cenas de violência) como naquela parábola do sapo e do escorpião que alguém faz referência no filme. A idéia é que a sua natureza - isolada, fria e violenta - estará sempre presente, e tentar sair dela, pode lhe render a morte. É como se fosse a sua maneira de lidar com o mundo. 
Na sequência de cenas onde ele persegue e joga o carro do seu inimigo pela ribanceira, ele usa uma máscara (aparentemente sem necessidade porque a vítima sequer o vê direito e ele nunca usa disfarce), me pergunto o porquê. Será que para se mostrar quem não é ou para afirmar quem ele é? Um homem sem face, inominável e oculto, aquele que esconde a sua verdadeira identidade. Ao final dessa sequência, ele praticamente se joga no mar para afogar o seu inimigo. Não tem limites, ele simplesmente se entrega aos seus impulsos.



SPOILER! 

Ao final, sinceramente acho que ele não sobreviveu...na prática, porque acho que ele seria perseguido pelos bandidos até ser morto. Ele matou os chefões, não iam deixar barato. De qualquer forma, a sensação que fica é que ele abandona tudo para trás, talvez porque ele tenha percebido que nada daquilo era significativo, não valeu a pena.


Nota: 7.

Link de uma das músicas de Drive: http://www.youtube.com/watch?v=3_4t3jUsiJk