terça-feira, 24 de setembro de 2013

Ata-me! (Átame!)



É um filme de 1990 de Almodóvar que conta no elenco com Antonio Banderas novinho. O enredo são os inusitados temas almodovarianos, sobretudo, o proibido. Sexo, sequestro, violência, drogas. Esse filme me lembrou muito o A Pele que Habito, só que bem menos complexo, achei até algumas coisas forçadas (é claro que os filmes de Almodóvar falam muitas vezes do absurdo, o que quis dizer é que, admitindo o absurdo, algumas coisas foram forçadas).

A história é a seguinte: Rick (Antonio Banderas) é um jovem com um histórico problemático que é liberado de uma instituição psiquiátrica e tem um único desejo: casar-se e ter filhos com uma mulher que ele se apaixonou há 1 ano atrás.  Essa mulher, Marina, é uma atriz que está atuando na produção de um filme de terror B, mas que já fez filmes pornôs e foi usuária de drogas.

cena do filme de terror B
Rick é um galanteador, no hospital psiquiátrico em que ficou, se relacionou com várias mulheres, entre enfermeiras e a diretora do hospital, e comete delitos desde roubo de drogas até de carros. Marina é uma mulher atraente, seduz os homens sem querer (vide o diretor do filme).

Rick tenta se aproximar de Marina, mas a única forma real que ele vê de se aproximar dela é sequestrando-a, e acredita que ela irá se apaixonar por ele. Até aí já é inusitado, mas tem mais. Durante o sequestro, entre idas e vindas para aliviar a dor de dente de Marina, eles se conhecem mais, ao mesmo tempo que o círculo de amizades de Marina começa a procurá-la... Ele não vê outra alternativa senão fugir com Marina, mas aí é que acontecem reviravoltas no filme!




Achei "forçado" e fraco o desenvolvimento do filme, a forma como a história se desenrola, mas o desfecho tem sempre a marca única do diretor.

Gosto do Almodóvar pelas provocações que ele faz nos seus filmes. Ele aborda assuntos-tabus que ninguém fala e faz deles temas principais.

Nota: 6.





SPOILERS!



Então, Marina se apaixona por Rick.
Achei o desenvolvimento do filme fraco não foi porque Marina de fato se apaixona e vai em busca de Rick, mas que ela se apaixona não sei porquê motivo... Durante o cativeiro, chamemos assim embora ela tenha ficado na própria casa, eles pouco se conheceram... Ele foi mais violento e rude do que outra coisa, impunha medo e ameaçava Marina, a menos que ela tenha se apaixonado POR CAUSA disso. Mas acho bobo, seria como afirmar que, pela vida errante que Marina teve, só se interessaria por homens "errantes"... Acho simplório demais.
Quando a vi morrendo de amores quando ele volta todo machucado não acreditei! rs!




Tomada de cena incrível!
Quando Marina vai procurar Rick com a irmã na cidade onde ele nasceu e aquele final dos três cantando no carro, achei meio patético. Mas é um final bem almodovariano mesmo... Dá um desconforto ao ver um cara (Rick) que cometia furtos, burlava regras, se aproveitava das situações e que sequestrou Marina sendo procurado e amado. Almodóvar rompe com o convencional. Parece que desejamos e esperamos que aqueles que se encaixam no estereótipo de "mau", "cafajeste" e "ruim" se dêem mal, mas nem sempre é o que acontece... E mais, os dois fazem sexo, quer dizer, ela o deseja sexualmente exatamente no dia em que ele volta todo machucado da rua (ele foi buscar um remédio ou droga, não me lembro, para Marina e é espancado porque um grupo que ele havia roubado droga antes o viu e encurralou-o), como se ele tivesse feito um sacrifício por Marina, ela ficou comovida ao vê-lo machucado.
Almodóvar escreve histórias onde a sequestrada pede: "ata-me". 
Viva Almodóvar!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Vivendo (Zhit / Living)


Vivendo é um filme russo muito tocante. As interpretações são brilhantes e muito impactantes, fiquei muito impressionada.

O filme trata-se de um enredo de três personagens que perdem por morte pessoas muito próximas, e todas elas de maneira trágica, muito trágica, e o sofrimento que essas perdas provocam, e nesse ponto, as interpretações são muito intensas. É como se estivéssemos vivendo aquele sofrimento com elas.



Um personagem, que aparece menos, é o de um menino que espera ansiosamente a chegada do pai e convive com as grosserias da mãe que condena e desmerece esse sentimento do menino. Ao longo do filme acompanhamos a trajetória desse pai até o seu suicídio, as fantasias de reencontro do filho com o pai (que envolve as crueldades da mãe e do "padrasto") até a notícia da morte do pai.

o pai de Artem
Outra personagem é a mãe das gêmeas e ex-alcoolátra, Kapustina, é a personagem mais intensa na minha opinião. Ela perdeu a guarda das filhas e, depois de recuperar-se, recebe uma policial para uma vistoria na casa e finalmente é autorizado o retorno das meninas. As meninas são colocadas num trem (de maneira ilegal) e sofrem um acidente e morrem. Enquanto a mãe aguarda a chegada das meninas, conta um pouco da sua vida para a policial que fica em sua casa, que muito desgostosamente a ouve. Conta que depois que o marido morreu, começou a beber para tentar esquecer a morte do marido e a negligenciar o cuidado das filhas, ou seja, foi uma vida cercada de sofrimento e perdas e, quando parece haver um novo recomeço para a sua vida, as filhas morrem. A cena do enterro e o surto da mãe no enterro é muito impressionante.



A terceira personagem é Grishka, uma jovem de dreads longos, que acaba de casar-se com Anton. Na volta do casório, no trem, Anton é espancado até a morte por um grupo de homens, ela nada pode fazer e ninguém os ajuda.



Os personagens, após as perdas e cada qual da sua maneira, buscam contato com seus entes queridos falecidos, fabulam a continuação de suas vidas com eles, como se não tivessem morrido, aí surgem as criações fantásticas e lúdicas, as saídas para a morte. E essa é a parte mais dolorida, os fragmentos de vida e ilusão que sobram...

Kapustina acredita que suas filhas foram enterradas vivas e faz de tudo para ter um dia normal com elas. Grishka vaga, busca o padre que os casou e pergunta para que serve o Amor, bebe, se mutila. Artem (o menino que espera pelo pai), em meio aos seus delírios, somos levados a ver o seu pai andando pela cidade em sua procura e as maldades de sua mãe, mas tudo que o menino quer é o pai.

É um filme em que vagamos e deliramos junto dos enlutados e vemos o quanto é difícil e sofrido lidar com o momento do luto. Remontar a vida e seguir. Talvez as fabulações façam parte desse momento até para uma despedida simbólica do falecido, não sei.
O cenário gélido e escuro do filme ajuda no clima pesado de tristeza. Achei que faltou diálogos interessantes, mas as atuações e o clima do filme passam a mensagem, e muito bem.

Recomendação: se por alguma razão você estiver triste, não assista esse filme neste momento.

Nota: 9.