terça-feira, 23 de abril de 2013

Psicopata Americano (American Psycho)


Psicopata Americano é um filme que fala da obsessão pela imagem, não só a física mas a social também. O protagonista é Patrick Bateman (interpretado por Christian Bale em mais uma excelente atuação) um ricaço empresário de Wall Street que fica irritado pelos motivos mais banais e é capaz de matar e torturar pessoas. Podemos perceber que num ambiente sem valores humanos, cada detalhe banal dotado de significados que demonstrem poder, é decisivo para as relações. Aí, cartões de visita, a marca do terno, a melhor vista do apartamento e o restaurante que se frequenta podem dizer e determinar  como as pessoas são e como se relacionam, podem até se motivo para matar alguém.

Patrick Bateman tem uma preocupação excessiva com a sua imagem: usa uma série de cosméticos para a pele, faz uma série de exercícios físicos, massagens, bronzeamentos artificiais; tem obsessão pela beleza e pela limpeza. A cena da máscara é emblemática: insinua uma pessoa que vive sob uma máscara, mas que por trás não existe nada, é um vazio completo, e toda sorte de futilidades e banalidades ocupam o lugar. Ele tem uma imagem impecável - é bonito, usa os melhores ternos e as melhores gravatas. Pat tem um discurso bonito e politicamente correto, mas isso é só mais uma "casca", mais um artifício para manter uma imagem correta, e superficial. Nada mais.
Patrick é um personagem fantástico.


aqui com uma máscara de gelo para tirar as olheiras
nessa cena ele está transando com uma prostituta e se olhando no espelho
Todos os homens são iguais (no sentido de que todos são homogeneizados), exemplarmente demonstrado pelos seus cartões de visita que são todos iguais, apenas pequenos e ínfimos detalhes os diferenciam uns dos outros. Qualquer diferença considerada melhor é razão para Pat Bateman se enfurecer e se sentir confrontado. Ele simplesmente não pode ser inferior aos outros, ele deve ser o melhor.

Um dado muito interessante do filme em se tratando da indiferença de todos por todos é que facilmente as pessoas se confundem e trocam os nomes das pessoas por outras. Inclusive, Patrick é confundido várias vezes e numa dessas ele assume a identidade de um outro com muita tranquilidade. 


Sua noiva e sua amante são seres medíocres. Sua noiva é uma perua fútil e a amante vive dopada por uso de medicamentos...

Pat passa os dias fingindo que trabalha, discutindo qual é o melhor restaurante pra ir (inclusive é muito interessante ver como simplesmente ir a um determinado restaurante muito badalado [que esqueci o nome, começa com D] se torna símbolo de status e poder) e aos poucos começa a perder o controle sobre si. A sua onda de ira só parece passar quando maltrata ou mata alguém, e o pior, gosta disso, seu descontrole é demonstrado também quando imagina falando coisas assustadoras para os outros, coisas como xingamentos, confessando que gosta de matar moças, etc. Talvez na falta de referências sólidas, a busca por algo que o preencha se torna um problema. Usa drogas, tortura prostitutas e mata pessoas, com a mesma indiferença com que trata qualquer pessoa em qualquer situação. Mata suas vítimas inclusive no seu próprio apartamento enquanto explica os álbuns de música que tem em sua casa. As pessoas não significam nada para ele. Seu apartamento é ao mesmo tempo luxuoso e clean mas também comporta armas das mais variadas: machado, facas, serra elétrica e até uma pistola de pregos.



Pat tem muito dinheiro e poder, pode manipular e ter livre acesso para obter o que quiser, até mesmo quando confessa seus crimes para o advogado (que troca seu nome pelo de outra pessoa) este não lhe dá a mínima, se tiver que encobrir o caso, encobre, sem problemas; a sensação que fica é a de que ele (o advogado) quer se ver longe de qualquer problema, tipo assim: "Ok, você matou muitas pessoas. Dane-se, não quero problemas pra mim". Não se indigna, não se afeta, não se emociona, muito menos se discute qualquer coisa, a única preocupação é garantir a reserva do restaurante para mais tarde. E só. 

Patrick, mesmo sendo quem ele é, começa a se assustar em desejar matar as pessoas, fica sobressaltado com a reação do advogado: indiferença, nada.


A impressão que fiquei foi a de que, ao final, quando ele sai matando as pessoas, talvez tenha sido um surto que ele teve, acho difícil aquilo ter acontecido de fato, mas exemplifica bem o sentimento dele: matar a quem o incomodasse, o mínimo que fosse. E outra, ainda que ele fosse um monstro, à medida que tivesse dinheiro e poder, nada o impediria de fazer o que quisesse. Ele mata, confessa que matou e nada acontece, simplesmente as pessoas estão preocupadas com outras coisas mais importantes. É o caso do apartamento, onde ele mantinha diversos corpos mutilados, quando ele volta, o apartamento já tinha sido reformado e estava à venda, o importante aqui é não perder dinheiro.

Gostei muito do filme!
Alguma semelhança com os nossos tempos??

Nota: 10.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Histórias Cruzadas (The Help)



Esse filme fala do racismo e da coragem. E tem ótimas atuações.

Skeeter é uma moça, branca, que quer ser escritora e se sensibiliza com a vida das empregadas domésticas, na época, todas negras. Ela percebeu que essas mulheres além dos afazeres domésticos, cuidavam das crianças, geralmente de bebês até adultas, e eram consideradas muitas vezes como "mães", porque cuidavam de verdade, e eram elas as grandes responsáveis pela formação e criação dos brancos. Eram essas mulheres negras que formavam os "chefes" de indústrias, como não ouví-las? 
 
Aibileen
Skeeter é uma personagem peculiar, ela não segue os ditames da época: a mulher deveria se casar, ter filhos e ficar em casa. Ela sequer tem namorado e trabalha fora. Um escândalo. 

Skeeter
O filme é ambientado num período em que os EUA começavam a discutir os direitos civis e seu expoente máximo era Martin Luther King. Naquela época, a segregação era muito forte, e obviamente as empregadas não tinham espaço para falar nem para serem ouvidas; eis que Skeeter as busca para ouvir as suas histórias na intenção de publicá-las num livro. É claro que havia um receioóbvio por parte das empregadas  porque, caso alguém fosse descoberto (as histórias eram anônimas) elas seriam punidas por isso.

Existem algumas exceções, há "pessoas brancas" que respeitam os "negros" e "pessoas negras" que amam "brancos". Há também "pessoas brancas" que gostam dos "de cor", mas em nome de uma posição social, os ignoram e os desrespeitam. (uso aspas porque é muito estranho para mim classificar seres humanos em cores). Hilly (interpretada por Bryce Dallas Howard) é uma personagem odiosa, ela irrita qualquer um! Ela é a personificação do racismo. Ótima atuação!

Hilly e os banheiros
A "caipira" vivida por Jessica Chastain é ingênua e não vê diferença entre ela e sua empregada - a esquentada Minny (ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante) - a trata como alguém igual. Inclusive, achei a atuação das duas muito boa. É emocionante quando Celia (a personagem caipira) agradece à Minny por tudo... Inclusive, Celia é vítima de preconceito também... ela é ignorada pelas demais mulheres por ser considerada "caipira" e "fora de moda".

Celia e Johnny
Skeeter não tem vergonha e nem se intimida com os preconceitos da época, se lança ao seu sonho de ser jornalista e tenta entrevistar o máximo de empregadas negras, e confronta todos aqueles que são preconceituosos.

Curiosamente o filme dá ênfase às personagens femininas, os homens pouco aparecem, quando aparecem são geralmente retratados como covardes (o marido da Hilly que "escapa" quando a nova empregada pede um empréstimo), violentos (o marido da Minny que a espanca) e bobocas (como é o caso do pretendente da Skeeter) . Acho que o único que se "salva" é o marido da "caipira", que vê Minny de maneira igualitária.

parte do elenco
A primeira pessoa que aceita ser entrevistada, Aibileen, é uma personagem incrível e é a que mais aparece.  Aos poucos ela vai convencendo as demais mulheres a concederem  entrevistas para contar suas histórias e elas aos poucos vão revelando seus segredos.

Minny e Aibileen



O filme é isso, mostra a coragem de mulheres em revelar histórias de violência, desrespeito, mas também de afeto e amor que simplesmente não eram contadas, e que faziam parte da história de uma cidade, de uma país. E tudo isso começou porque uma jovem decidiu escrever sobre o que a incomodava.

Tem momentos de humor (como o da torta) e de emoção (como a história de Skeeter com a Constantine). A cena que mais me impressionou foi quando Skeeter relembra do seu laço afetivo com a empregada que trabalhou na sua casa por muitos anos, Constantine, e como a relação das duas foi importante para ela ser quem é.
 
Constantine e Skeeter quando era criança
No filme tudo acaba bem, embora eu tenha a impressão que naquela época as coisas eram muito piores...

Me ficaram duas perguntas:
O que fazemos com aquilo que nos incomoda? Será que "escrevemos" uma nova história?

Nota: 8.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

O hipnotista (The Hypnotist)

O Hipnotista é um suspense promissor: diante de uma chacina cometida contra uma família inteira, há somente um sobrevivente - um menino de 15 anos que está em estado de choque. Único recurso possível? A hipnose.
O detetive Joona corre contra o tempo, porque podem ter outras vítimas da mesma família, e recorre ao médico Erik que é um especialista em hipnose e em pacientes traumatizados psicologicamente para ajudá-lo a desvendar esse terrível crime.  

Têm reviravoltas e surpresas, mas achava que o filme tentaria se enveredar pelos mistérios da hipnose, mas não. Quer dizer, ela é fundamental para se investigar o terrível crime, mas não tem nenhuma problematização quanto ao seu uso; no filme, apesar da resistência do médico em aplicá-la (ele teve problemas no passado por causa da hipnose), ela funciona bem.
 
detetive Joona
Achei um filme morno, se bem que fiquei "ligada" no filme o tempo todo, talvez tenha ficado assim porque esperava algo totalmente surpreendente (o que sempre esperamos, mas nem sempre acontece).

SPOLEIRS TALVEZ!
Na cena final, achei a investida da polícia muito mal sucedida e mal planejada. Como assim levam os pais para o local onde está o sequestrador do filho deles?? E só um policial para resolver o resgate da criança? 
O assassino era "louco" ou era carência? Estou ironizando, mas achei que faltou aprofundar as razões pelas quais o assassino cometeu os crimes, foi por influência, por pressão, por sugestão? Ninguém mata uma família inteira à pedido de alguém, ou pelo menos, não é tão simples assim. Em troca de quê fez o que fez? Achei que justificar o que fez porque ele era adotado e porque quem mandou era "louca", fracos demais.
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o menino que sobreviveu ao ataque à sua família e o médico Erik
a família do médico que acaba sendo envolvida na trama
É um filme bom, com reviravoltas e descobertas. Acontece que, conforme os fatos vão se revelando, quem assiste, facilmente presume o que poderá acontecer. 
É, tem isso, a vida às vezes é muito surpreendente e às vezes é muito comum também. A gente sempre espera algo MUITO incrível dos filmes, mas às vezes retratar o comum, o que muitas vezes tem mais a ver com a realidade, também é bem interessante (o que nem é muito esse o caso, afinal, AINDA BEM que assassinatos de famílias inteiras não são comuns...).

É um filme baseado num livro de mesmo nome. Será que são muito diferentes? Alguém leu?

Nota: 7.