segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Vivendo (Zhit / Living)


Vivendo é um filme russo muito tocante. As interpretações são brilhantes e muito impactantes, fiquei muito impressionada.

O filme trata-se de um enredo de três personagens que perdem por morte pessoas muito próximas, e todas elas de maneira trágica, muito trágica, e o sofrimento que essas perdas provocam, e nesse ponto, as interpretações são muito intensas. É como se estivéssemos vivendo aquele sofrimento com elas.



Um personagem, que aparece menos, é o de um menino que espera ansiosamente a chegada do pai e convive com as grosserias da mãe que condena e desmerece esse sentimento do menino. Ao longo do filme acompanhamos a trajetória desse pai até o seu suicídio, as fantasias de reencontro do filho com o pai (que envolve as crueldades da mãe e do "padrasto") até a notícia da morte do pai.

o pai de Artem
Outra personagem é a mãe das gêmeas e ex-alcoolátra, Kapustina, é a personagem mais intensa na minha opinião. Ela perdeu a guarda das filhas e, depois de recuperar-se, recebe uma policial para uma vistoria na casa e finalmente é autorizado o retorno das meninas. As meninas são colocadas num trem (de maneira ilegal) e sofrem um acidente e morrem. Enquanto a mãe aguarda a chegada das meninas, conta um pouco da sua vida para a policial que fica em sua casa, que muito desgostosamente a ouve. Conta que depois que o marido morreu, começou a beber para tentar esquecer a morte do marido e a negligenciar o cuidado das filhas, ou seja, foi uma vida cercada de sofrimento e perdas e, quando parece haver um novo recomeço para a sua vida, as filhas morrem. A cena do enterro e o surto da mãe no enterro é muito impressionante.



A terceira personagem é Grishka, uma jovem de dreads longos, que acaba de casar-se com Anton. Na volta do casório, no trem, Anton é espancado até a morte por um grupo de homens, ela nada pode fazer e ninguém os ajuda.



Os personagens, após as perdas e cada qual da sua maneira, buscam contato com seus entes queridos falecidos, fabulam a continuação de suas vidas com eles, como se não tivessem morrido, aí surgem as criações fantásticas e lúdicas, as saídas para a morte. E essa é a parte mais dolorida, os fragmentos de vida e ilusão que sobram...

Kapustina acredita que suas filhas foram enterradas vivas e faz de tudo para ter um dia normal com elas. Grishka vaga, busca o padre que os casou e pergunta para que serve o Amor, bebe, se mutila. Artem (o menino que espera pelo pai), em meio aos seus delírios, somos levados a ver o seu pai andando pela cidade em sua procura e as maldades de sua mãe, mas tudo que o menino quer é o pai.

É um filme em que vagamos e deliramos junto dos enlutados e vemos o quanto é difícil e sofrido lidar com o momento do luto. Remontar a vida e seguir. Talvez as fabulações façam parte desse momento até para uma despedida simbólica do falecido, não sei.
O cenário gélido e escuro do filme ajuda no clima pesado de tristeza. Achei que faltou diálogos interessantes, mas as atuações e o clima do filme passam a mensagem, e muito bem.

Recomendação: se por alguma razão você estiver triste, não assista esse filme neste momento.

Nota: 9.

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