Psicopata Americano é um filme que fala da obsessão pela imagem, não só a física mas a social também. O protagonista é Patrick Bateman (interpretado por Christian Bale em mais uma excelente atuação) um ricaço empresário de Wall Street que fica irritado pelos motivos mais banais e é capaz de matar e torturar pessoas. Podemos perceber que num ambiente sem valores humanos, cada detalhe banal dotado de significados que demonstrem poder, é decisivo para as relações. Aí, cartões de visita, a marca do terno, a melhor vista do apartamento e o restaurante que se frequenta podem dizer e determinar como as pessoas são e como se relacionam, podem até se motivo para matar alguém.
Patrick Bateman tem uma preocupação excessiva com a sua imagem: usa uma série de cosméticos para a pele, faz uma série de exercícios físicos, massagens, bronzeamentos artificiais; tem obsessão pela beleza e pela limpeza. A cena da máscara é emblemática: insinua uma pessoa que vive sob uma máscara, mas que por trás não existe nada, é um vazio completo, e toda sorte de futilidades e banalidades ocupam o lugar. Ele tem uma imagem impecável - é bonito, usa os melhores ternos e as melhores gravatas. Pat tem um discurso bonito e politicamente correto, mas isso é só mais uma "casca", mais um artifício para manter uma imagem correta, e superficial. Nada mais.
Patrick é um personagem fantástico.
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aqui com uma máscara de gelo para tirar as olheiras |
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nessa cena ele está transando com uma prostituta e se olhando no espelho |
Todos os homens são iguais (no sentido de que todos são homogeneizados), exemplarmente demonstrado pelos seus cartões de visita que são todos iguais, apenas pequenos e ínfimos detalhes os diferenciam uns dos outros. Qualquer diferença considerada melhor é razão para Pat Bateman se enfurecer e se sentir confrontado. Ele simplesmente não pode ser inferior aos outros, ele deve ser o melhor.
Um dado muito interessante do filme em se tratando da indiferença de todos por todos é que facilmente as pessoas se confundem e trocam os nomes das pessoas por outras. Inclusive, Patrick é confundido várias vezes e numa dessas ele assume a identidade de um outro com muita tranquilidade.
Sua noiva e sua amante são seres medíocres. Sua noiva é uma perua fútil e a amante vive dopada por uso de medicamentos...
Pat passa os dias fingindo que trabalha, discutindo qual é o melhor restaurante pra ir (inclusive é muito interessante ver como simplesmente ir a um determinado restaurante muito badalado [que esqueci o nome, começa com D] se torna símbolo de status e poder) e aos poucos começa a perder o controle sobre si. A sua onda de ira só parece passar quando maltrata ou mata alguém, e o pior, gosta disso, seu descontrole é demonstrado também quando imagina falando coisas assustadoras para os outros, coisas como xingamentos, confessando que gosta de matar moças, etc. Talvez na falta de referências sólidas, a busca por algo que o preencha se torna um problema. Usa drogas, tortura prostitutas e mata pessoas, com a mesma indiferença com que trata qualquer pessoa em qualquer situação. Mata suas vítimas inclusive no seu próprio apartamento enquanto explica os álbuns de música que tem em sua casa. As pessoas não significam nada para ele. Seu apartamento é ao mesmo tempo luxuoso e clean mas também comporta armas das mais variadas: machado, facas, serra elétrica e até uma pistola de pregos.
Pat tem muito dinheiro e poder, pode manipular e ter livre acesso para obter o que quiser, até mesmo quando confessa seus crimes para o advogado (que troca seu nome pelo de outra pessoa) este não lhe dá a mínima, se tiver que encobrir o caso, encobre, sem problemas; a sensação que fica é a de que ele (o advogado) quer se ver longe de qualquer problema, tipo assim: "Ok, você matou muitas pessoas. Dane-se, não quero problemas pra mim". Não se indigna, não se afeta, não se emociona, muito menos se discute qualquer coisa, a única preocupação é garantir a reserva do restaurante para mais tarde. E só.
Patrick, mesmo sendo quem ele é, começa a se assustar em desejar matar as pessoas, fica sobressaltado com a reação do advogado: indiferença, nada.
A impressão que fiquei foi a de que, ao final, quando ele sai matando as pessoas, talvez tenha sido um surto que ele teve, acho difícil aquilo ter acontecido de fato, mas exemplifica bem o sentimento dele: matar a quem o incomodasse, o mínimo que fosse. E outra, ainda que ele fosse um monstro, à medida que tivesse dinheiro e poder, nada o impediria de fazer o que quisesse. Ele mata, confessa que matou e nada acontece, simplesmente as pessoas estão preocupadas com outras coisas mais importantes. É o caso do apartamento, onde ele mantinha diversos corpos mutilados, quando ele volta, o apartamento já tinha sido reformado e estava à venda, o importante aqui é não perder dinheiro.
Gostei muito do filme!
Alguma semelhança com os nossos tempos??
Nota: 10.