terça-feira, 8 de outubro de 2013

A Parede (Die Wand / The Wall)


É um filme alemão de 2012 e um tanto inusitado. Tem paisagens deslumbrantes e a trilha é brilhante, salpicada ao longo do filme, não tem uma cena em que a música se estenda, é pontual. É um filme lento e silencioso.

Conta a história de uma mulher, que vai ficar na casa das montanhas com um casal, não sabemos quem eles são e qual a relação entre eles. Esse casal sai e no dia seguinte, quando a mulher acorda, não os encontra e descobre que ela está "presa" dentro de uma espécie de redoma que a impede de passar por além dos limites da parede transparente e parece que o que está "do outro lado" parou. 

aqui é uma parte da redoma. Detalhe para as paisagens!


Parece que ela vive num lugar isolado e esquecido do mundo.
Sobre a mulher não sabemos seu nome e ela praticamente não fala o filme inteiro, ouvimos a narração em "off" do diário que ela começa a escrever com papéis que encontra pela cabana.



O que me impressionou foi a personagem ser impassível e conformada à nova realidade: se adaptar para tornar suportável. Ela não se rebela, tenta se adaptar àquilo. Somente num sonho aparece ela gritando, só no sonho. Isso foi um incômodo pra mim. Numa situação-limite como essa, a loucura seria um escape privilegiado, mas a mulher simplesmente aceita aquela situação, ela tenta romper a barreira invisível algumas vezes (inclusive tenta avançar com o carro), mas nada que a fizesse desesperar. Será que o pensar constante, o amor (pelos animais) e a escrita a impediram de se entregar às fantasias e alucinações? Ou seria essa realidade uma forma de loucura?

Nessa trajetória, alguns animais a acompanham, principalmente Luchs, um cão que a acompanha em todos os lugares: nas caçadas, nas colheitas, nas caminhadas. Tem também a Bella, que é uma vaca, um bezerro, e dois gatos, além do corvo branco, mas esse com menos contato (inclusive ela faz uma reflexão muito interessante sobre o corvo).

Uma coisa interessante do filme é a relação dela com o cão. Ela mesmo fala que os dois não eram mais cão e mulher, eram uma coisa só, tamanha a relação entre eles.  Achei bonito essa noção de integração entre os seres vivos, sem distinção. A relação dela com os animais é íntima, ela trabalha duro na plantação e na caça, para se sustentar, mas também para manter os animais.




Para mim, o filme fala da solidão. E todos os acontecimentos - como a mudanças das estações, o vento, o sol, tudo - é motivo para reflexões da mulher. Filosofa sobre cada aspectos, por muitos podem ser banais, mas compunham a rotina dela: o tempo, a morte, as escolhas. Fala de como o tempo passa rápido e como se sente mover-se num tempo imóvel; como detesta matar animais; como estar fadada a fazer escolhas é algo pesado. E o quanto essas reflexões beiram a poesia em muitos momentos.

A mulher conta os dias e os meses, numa tentativa de se situar no tempo e espaço, mas talvez para tentar controlar o incontrolável, o imprevisível; também possa ser uma tentativa de afirmar que ela existe num tempo e num espaço, já que todos se esqueceram dela.


Esperei que o filme fosse ter um final dramático - já que as coisas se encaminhavam para um ápice comovente -, mas, como a protagonista anunciava ao longo do filme, nada de dramalhão ou insanidade, a mulher simplesmente aceitou o destino calada e passiva.

No cartaz em inglês, tem a seguinte frase (traduzida no Google Tradutor): "Dentro de cada um encontra-se uma verdade onde só o deserto pode revelar". Talvez a redoma invisível seja aquele espaço mais íntimo em cada um de nós que, isolado do mundo externo, podemos refletir sobre o mundo e sobre nós.

Nota: 8.

2 comentários:

  1. Ótimo filme, daqueles que te fazem refletir por uma noite, e eu estou aqui no Google procurando quem assistiu e escreveu algo a respeito :D

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