domingo, 14 de outubro de 2012

Medianeras - Buenos Aires na Era do Amor Virtual

É uma comédia romântica muito da inteligente. O formato do filme é muito legal e criativo. A escolha do título é muito original e o modo como se associa com a história do filme é bem interessante.

O filme aborda o fato de que em Buenos Aires (e nas grandes metrópoles) os prédios estão tomando conta da paisagens e de certa forma isolam seus moradores em si e entre si e os colocam em "caixas de sapato", apartamentos muito pequenos, e sem janelas. Aliás, o ritmo de vida contemporâneo afasta as pessoas de um contato próximo e real (fazendo oposição ao distante e virtual).

Mariana e partes dos seus manequins
Os personagens são Martin e Mariana e são praticamente vizinhos, mas não se conhecem. Martin é um rapaz hipocondríaco, depressivo, trabalha e vive na Internet e dorme pouco; Mariana é uma arquiteta que trabalha como vitrinista, está se adaptando a morar sozinha (se separou há pouco tempo). Ambos são igualmente solitários e melancólicos. Ambos viveram e vivem desventuras no amor: Martin sempre se decepciona com mulheres conhecidas pelo mundo virtual e Mariana não se atrai por nada nem por ninguém; parece que as demais pessoas também não se interessam muito por eles...somem, desaparecem.

Acaso do destino ou não eles vão se esbarrando pelas ruas e até pela Internet, mas nada acontece, nem se vêem... Acredito que vão se encontrar pelas suas tristes e infelizes semelhanças...
Martin e seu apê escuro
Não sei se existe exatamente esse termo na arquitetura, mas segundo o filme, Medianeras é aquele lado de qualquer edifício, casa ou construção que não é privilegiado: é um lado "feio", tem rachaduras, não tem janelas ou qualquer tipo de cuidado na aparência. Acho que esse título fala muito do que se trata o filme, fala do lado "sombrio" das relações nas grandes cidades. Tanto é que, na minha opinião, quando os personagens decidem abrir uma janela "clandestina" em seus apês escuros, abrem no lado "feio" do prédio e, curiosamente, um pode enxergar a janela do outro (e consequentemente, o outro).

Outra coisa interessante é que Mariana tem um livro desde sua infância do "Onde está Wally?" e nunca achou o dito cujo no cenário da cidade, e quando ela o vê da sua janela clandestina, encontra Martin trajado tal como o personagem dos livros e assim se dá o encontro.
as janelas "clandestinas" situadas em um lado pouco conveniente do edifício!

Acho que a "abertura da janela clandestina" é um sinal de mudança de Martin e de Mariana, uma coisa do tipo: "Quero luz, quero ver!" mudanças essas que faz com que Mariana coloque um piercing e Martin finalmente tire da embalagem um antigo brinquedo, o mesmo que figura sua tela do pc.

Uma sacada bacana do filme é que, mesmo que existam lados "feios", aí onde existam rachaduras e propagandas sem-graça, pode nascer plantas e flores, como aparecem em cenas belíssimas.

Buscando na internet alguma coisa sobre o filme, achei essa declaração bem legal do diretor: Quanto à temática central do filme, o diretor Gustavo Taretto explica que quis retratar um solidão que não é dramática, mas "uma solidão a que já estamos acostumados. De todos os dias. Solidão urbana. A solidão que sentimos quando estamos rodeados de desconhecidos".

"Na clássica definição de Richard Sennett, uma cidade é 'um assentamento humano em que estranhos têm a chance de se encontrar'".

Nota: 9,5.

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