É um filme muito perturbador. Dormi e acordei pensando nele... Mas antes que pensem que é um filme de terror ou de violência gratuita, digo que não é. É um filme muito bem feito, com atuações brilhantes e olhares aterradores.
Com poucos diálogos é um filme que mostra o sofrimento intenso da mãe, Eva (Tilda Swinton), de um psicopata ainda adolescente, Kevin. No início do filme você já pressente que não vai vir coisa boa, e quando acontece algo de ruim, a expectativa é de que algo muito pior esteja por vir. Foi assim que me senti durante todo o filme, fiquei tensa esperando o que de ruim fosse acontecer, e realmente, acontece.
O filme é contado de maneira bem interessante: é picotado com cenas do presente e do passado, que vão revelando o que aconteceu para culminar naquela vida massacrada que é o presente de Eva. Outro ponto que achei original é o foco do filme ser na mãe de um psicopata e não nele. Todos os filmes do gênero mostram como protagonista o psicopata e suas crueldades, nesse não, mostra a figura que esteve presente desde o início: a mãe, e claro, todo o sofrimento e a dúvida que persiste.
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Capa do livro |
Eva é casada com Franklin e decidem ter um filho, Kevin, e desde pequeno Kevin e Eva têm uma relação de estranhamento, distância e confronto; ele ainda criança manipula os pais (e outras pessoas também se for necessário, como a médica quando ele quebra o braço) e sabe como extrair proveito das situações. A cada resposta dele, Eva parece ficar muito surpresa e assustada. O pai é muito carinhoso e nada suspeita do menino. Alguns anos depois eles têm uma menina, Celia.
Desde quando Kevin era bebê, se torna nítida a dificuldade que Eva tinha de ser mãe - mudar de vida, abrir mão de muitas coisas, ter que ser amável quando o bebê só chora, ter paciência quando a criança se recusa veementemente a falar "mamãe".
É muito interessante as cenas do filme marcadas pelo silêncio, pelo olhares cínicos e medrosos, pela cor vermelha que remete ao sangue e é profundamente doloroso assistir todo o sofrimento que Kevin vai gerando nas pessoas, principalmente em Eva e somente ela nota isso. O ato, que dura o filme todo, de tirar a tinta vermelha da casa parece indicar que o passado está presente, ali, escancarado, mas também um processo de limpeza, de tentar sobreviver quando já se perdeu tudo, só restou dor e medo.
No presente Eva é execrada e humilhada constantemente pelas pessoas que não esquecem (e não tem como esquecer) da tragédia que Kevin provocou na escola... Ela fica sendo a "mãe que criou o monstro". Viver sob esse estigma é muito difícil.
O terror do filme é outro, é uma rejeição e um afrontamento sutis, lento e muito cruel. Taí, crueldade é uma palavra que marca o filme, e é tão provocador que Eva não resiste e cede algumas vezes à ela e faz parte do jogo de Kevin.
É um filme que faz pensar de onde e como surge a psicopatia. Mas sinceramente, ainda é uma grande incógnita.
Ele rompe com a idéia da maternidade ser algo maravilhoso; e quando a criança se torna insuportável? O quê fazer?
Eva procura respostas, leva Kevin ao médico e é constatado que ele é uma criança normal. Como fica a cabeça de uma mãe que não tem absolutamente nenhuma explicação para justificar o filho problemático?
Não concordo com expressões como "a criança maldita" ou "filho do demônio" ou "a encarnação do mal", coisas do tipo... Minha hipótese é que a crueldade e o belo coexistem no ser humano, é claro, que não tô discutindo aqui condições de maus-tratos e miséria social, mas a essência humana.
Não acho frutífero também pender o debate para a religiosidade, como possessões e afins.
O título é emblemático, em nenhum momento é conversado abertamente sobre e com Kevin. Eva simplesmente convive e se "acostumou" com Kevin e com o sofrimento.
Eu diria que o auge do filme não é somente quando nos é revelado a tal tragédia que Kevin provoca, que é extremamente terrível, mas sim no finalzinho mesmo, quando ela pergunta o porquê de tudo aquilo. Para mim foi a parte mais tensa e cruel... Procurando críticas sobre esse filme, li alguns comentários interessantes que mostram algumas partes do livro (é, tem um livro que deve ser MT melhor/pior) e tem uma frase que, para mim, explica toda essa relação com a mãe. Ele diz: "Quando a gente prepara um show, não atira na platéia".
Pra mim é isso, é esse o sentimento que Kevin tem por Eva e tudo que ele faz é para ferí-la. Sem motivo, só por ferir, como ele diz, que o propósito é não ter propósito.
É um filme muito duro, terrível de se assistir, mas interessantíssimo!
Nota: 10.
Gostaria de pedir atenção aos spoilers, quem achar que é preciso revelar a trama para a discussão, avise por favor que contém SPOILERS! Ok?